domingo, 25 de março de 2012

Memórias ininteligíveis de uma madrugada



E o tempo lá fora me disse
"Agradeça, você só tem a agradecer"
E eu acatei, tímida:
o tempo tinha toda a razão.

Joguei minhas preces pro ar
e fiz delas mais que um desejo
Pedi para que o destino
realizasse aquilo que fosse para ser.

Como resposta, o vento correu
Passou brincalhão pelos meus ouvidos
Riu, chorou, falou, mentiu
Me divertiu com toda a sua confusão.

Mas no fim do dia abri meus olhos e vi
que aquilo que seu sempre sonhei e sempre quis
estava perto o suficiente para que eu pudesse tocar.

E não havia distância ou briga ou vontade
que me afastaria ou me fizesse esquecer
daquilo que era perpétuo, verdadeiro.

Era tudo que minhas palavras tortas e tontas podiam tentar dizer.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Vestígios de uma aula de Filosofia


       Kant, afinal, tinha razão. O imperativo categórico já falava que a razão deve estar sempre acima da emoção. O coração não pensa, age por impulso e pode destruir alguém em segundos. Não interessa a solidão ontológica do homem: este será um dia atingido pelos estragos do sentimento. O cérebro é que pode nos mostrar o caminho a ser seguido para alcançar o sucesso. Glória, poder, astúcia, audácia.
       Mas Kant que me desculpe. Não vou parar de escutar o que o meu coração às vezes me diz. Acredito que a solidão da alma dói mais que a ferida no peito causada por alguma decepção ou outro motivo causado pela minha emoção exacerbada. É por isso que meu coração grita, tentando mostrar à razão o que eu julgo ser feliz e na esperança de ser ouvido por alguém.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Apenas mais uma história trágica


           Tinha 5 anos bem vividos. Mergulhada no próprio mimo, nariz em pé, perdida em ideias e um mundo inteiro a descobrir. Brincava de princesa, heroína e até lutava com dragões. Não ligava para ninguém, até porque ninguém realmente ligava para ela.
           Aos 10 anos descobriu coisas da vida que muito adulto nunca vira e nem precisara presenciar. Foi largada, abandonada; estava sozinha. Encontrou refúgio e companhia em seu inconsciente, trouxe para sua realidade aquilo que bem entendera e quisera. Deixou-se levar pela tristeza: afinal, ninguém ligaria para ela.
           Chegou aos 15 de um jeito que nunca imaginara. Corpo possuído, inocência deflorada. Agora brincava com outro tipo de heroína e se entregava sem pudor. Sobrevivia alucinada, carregava um vazio infinito nos olhos e coletava prazeres momentâneos. Continuava sem se importar, já que na manhã seguinte ninguém ligaria também.
           Com 20 anos já não era mais nada. Sexo, drogas e, se desse tempo, rock n' roll. Arranjara amigos da pior qualidade que ao menos mantinham um sangue sujo correndo pelas suas veias. Seu coração ainda batida, mas já estava oca há tempos. E se ela não ligava, por que mais alguém ligaria?
           Finalmente foi encontrada aos 25 por um cara legal. Este tocou-lhe a face gélida e até mesmo gostou do que viu. Não conseguira perceber o passado podre, sujo e fétido que o corpo dela exalava, mas sentia que deveria ajudá-la. Ironia do destino que a ajuda tenha batido em sua porta quando já era tarde demais. Os olhos fechados e a pele gelada indicavam que ali já não havia mais pulsação.
           E quando alguém poderia finalmente se importar, o jogo chegou ao fim. Morreu com o cigarro entre os dedos e sem ninguém ligar.

terça-feira, 13 de março de 2012

Meu carinho é todo teu


Meio ano é o suficiente para saber que já não se vive mais sem.
Meio ano de amor já me prova que preciso de você.
No passado, no presente e no futuro.